Sorriso: redação de adolescente que sofria abusos sexuais há 8 anos denuncia seu sofrimento

A violência sexual sofrida pela adolescente, por cerca de oito anos em Ipiranga do Norte (relembre o caso AQUI), pode trazer sérias consequências tanto na sua vida pessoal quanto na social. Para tentar aliviar sua dor, a adolescente, que chegou a tentar suicídio, fez uma redação na escola que chamou a atenção dos professores. Foi aí que a suspeita se levantou e os professores passaram a desconfiar que algo estava errado.

Para o psicólogo Danilo Steffani, a escrito foi a válvula de escape para o sofrimento da garota. Ela conseguiu colocar sua dor para fora através da redação.

Segundo as investigações, o papel da escola foi fundamental para que a polícia descobrisse a violência que a adolescente vinha sofrendo desde os seis anos de idade. Por isso, segundo Danilo, a importância dos profissionais da educação ficarem atentos ao comportamento dos alunos em sala de aula. 

“O trabalho dos professores de acolher isso e trazer essa possibilidade de escuta é não ignorar. É a gente considerar que o que está sendo dito, escrito, manifesto enquanto comportamento, gosto, roupa diferente, querer colocar um risco de caneta no braço, está nos comunicando algo”

Perguntado se a adolescente poderá ter uma vida normal novamente, Danilo explica que o pior já aconteceu e que agora seus traumas precisam ser tratados com muito cuidado, respeitando os limites e os espaços da vítima.

Conforme o Balanço Geral já noticiou, a adolescente hoje vive com o pai biológico, longe dos agressores que foram presos na tarde dessa sexta-feira, pela Polícia Judiciária Civil.

Leia a carta na íntegra

“O que nos força a mentir é o sentimento da impossibilidade de os outros compreenderem inteiramente minha ação. Mas para mim, a mentira mais complicada é mais simples que a verdade. Eu penso que o ódio é um sentimento que só poderia existir na ausência da inteligência. É bem curioso como eu não sei dizer quem eu sou, quero dizer, sei bem, mas não posso dizer.

Sobretudo, tenho medo de dizer, porque no momento que tento falar não só não exprimo o que sinto, como o que sinto se transforma lentamente no que digo. Não ajo. Odeio e amo.

O único consolo que sinto é pensar na “inevitabilidade” da minha morte. É o mesmo que sente um barco em perigo.

Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir, o que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Me sinto bem em não participar de nada. Explicar o que sinto é a mesma coisa que explicar as cores para um cego.

Estou aqui porque deixo estar desconfortável, não me sinto bem, não sei se é mais alguma coisa errada. Às vezes me sinto como se estivesse presa num filme.

Sinto impulsos cortantes, assustadores e estúpidos.

Não sei como às vezes gosto de viver.

Algumas vezes me sinto loucamente, desesperadamente atormentada pela aflição.

Me sinto perdida no mundo”.

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Confira AQUI a reportagem exibida no Balanço Geral, programa da TV Sorriso (RecordTV).

Texto: Larissa Gribler/Portal Sorriso