Ministério da Agricultura libera mais 31 agrotóxicos

O número de agrotóxicos aprovados no Brasil está aumentando em ritmo acelerado e preocupando ambientalistas.

O Ministério da Agricultura liberou esta semana, numa tacada só, 31 agrotóxicos, como mostrou o jornal “O Globo”. Já são 169 registros autorizados em 2019, mais de um por dia. Nenhum deles tem princípio ativo novo, são igualmente tóxicos aos já usados no país. Entre eles está o glifosato, um dos defensivos agrícolas que o país mais compra e que a Organização Mundial da Saúde alerta que pode causar câncer.

Nas contas do Greenpeace, 26% desses defensivos liberados já foram banidos pela União Europeia. O Ministério da Agricultura admite que o trabalho de análise dos pedidos de registro de agrotóxicos está sendo priorizado. Alega que havia muitos processos parados e, por isso, houve reforço de mais técnicos nos três órgãos que dão aval para um pesticida ser liberado: o Ministério da Agricultura, a Anvisa e o Ibama.

Ao explicar a liberação, o coordenador do setor de Agrotóxicos no Ministério da Agricultura, Carlos Venâncio, comparou os agrotóxicos a medicamentos genéricos.

“Se uma empresa pode comercializar, ela atende aos requisitos técnicos, cumpre as regras do Mapa (Ministério da Agricultura), do Ibama e da Anvisa, ela pode estar no mercado e pode disputar com outra empresa que estava sozinha, assim como é um medicamento genérico, por exemplo, onde você tem diversas marcas do mesmo medicamento e a pessoa, quando vai à farmácia, tem que escolher uma daquelas opções que ela tem acessível”.

A pressão das empresas para liberar os agrotóxicos também é reconhecida pelo governo. O coordenador no Ministério da Agricultura disse que elas buscam, inclusive, a Justiça para conseguir isso. E, segundo ele, existem hoje mais de 200 decisões liminares para priorizar essas análises. Pelo levantamento do Greenpeace, 43% dos defensivos que foram para o mercado em 2019 são altamente ou extremamente tóxicos.

Marina Lacôrte, especialista em agricultura e alimentação do Greenpeace, afirma que, na comparação com os cinco primeiros meses de anos anteriores, este é o que mais autorizou pesticidas no mercado, uma liberação recorde. E lembra que, no começo de 2019, o argumento do Ministério da Agricultura para acelerar essas liberações era para tornar acessíveis produtos novos, modernos e menos tóxicos.

“Ao invés de a gente dar prioridade para um programa de monitoramento de resíduos, de fiscalização de quais agrotóxicos e quanto estão na água, vai lá e se prioriza mais um produto contendo glifosato, que não tem nada de moderno também e nada de menos tóxicos. Então, essa é a verdadeira causa desse ritmo muito acelerado que a gente está vendo. É uma mudança na lógica de operação, uma mudança de prioridade mesmo do governo que, sim, está dando muito espaço para o veneno”.

Texto: Jornal Nacional